Eu ainda não consigo acreditar, já se passaram mais de 24 horas do fim do jogo e eu ainda não consigo acreditar. Deixei passar esse dia para ver se eu conseguiria absorver melhor o jogo, entender melhor as coisas. Não funcionou. Decidi assistir à partida mais uma vez, ver o jogo condensado para analisar melhor o que houve e como aquela partida foi até onde foi e terminou daquela maneira. Ainda assim não fui capaz de encontrar uma resposta.

Essa partida foi um evento mágico, daqueles onde você percebe o tecido da realidade afinando, que tudo passa meio em câmera lenta e que você tem certeza que jamais esquecerá. Foi, sem dúvida, a melhor partida a que eu já assisti.

Eu sei que jamais vou encontrar os motivos para que a partida tenha terminado da forma que terminou – é um daqueles jogos que te mostram que realmente tudo pode acontecer em uma partida de futebol americano, ao mesmo tempo que te fazem querer acreditar que existe uma força maior estrategicamente roteirizando os eventos.

Por essa razão vou deixar a única coisa minimamente sólida, os números da partida, tentarem explicar mais objetivamente como e por que essa partida foi incrível.

Os Quarterbacks:

Podemos dizer que, em números gerais, ambos os quarterbacks tiveram quase que o mesmo desempenho (algo que não é verdade). Tanto Brees quanto Keenum tiveram 25 passes completos de 40 tentados; o camisa 9 de New Orleans conseguiu 294 jardas enquanto o camisa 7 de Minnesota conseguiu 318; média de 7.3 por tentativa para o QB de dourado e preto, e 7.9 para o de dourado e roxo; e foram dois sacks para cada lado. Drew terminou a partida com um QBr de 51,3 e Case com 64,6.

Apesar dos números parecidos, se analisarmos as estatísticas quarto por quarto do jogo veremos desempenhos muito diferentes:

1º Quarto –

Brees

1/6 3 yds 0 TD 1 Int QBr 0.0

Keenum

6/9 61 yds 0 TD 0 Int QBr 85.8

2º quarto –

Brees

6/9 94 yds 0 TD 1 Int QBr 61.5

Keenum

6/9 22 yds 0 TD 0 Int QBr 70.1

3º e 4º quarto –

Brees

18/25 197 yds 3 TD 0 Int QBr 134.5

Keenum

13/22 235 yds 1 TD 1 Int QBr 92.04

Drew Brees fez um segundo tempo, especialmente o último quarto, digno de um jogador de sua magnitude: foi decisivo quando precisou, colocou bolas nos lugares perfeitos e fez jogadas mágicas, mas faltou consistência ao longo da partida. Keenum, em contrapartida, não é o QB mais genial da história (sua interceptação no fim do terceiro quarto mostra isso), porém no sistema adequado, com uma boa defesa e um bom técnico, é um jogador extremamente consistente e eficiente; além disso, foi decisivo – muitos QBs da liga não teriam a frieza necessária para acertar aquele último passe.

Os Recebedores:

Os números novamente vêm muito parecidos aqui – ambos os times tiveram um bom desempenho de seus recebedores número 1: Thomas com 7 recepções, 85 jardas, 12.1 de média, 23 yds a mais longa e 2 TDs; Diggs com 6 recepções, 137 jardas, 22.8 de média, 61 jardas a mais longa e 1 TD. Se excluirmos a última recepção de Diggs, os números ficariam ainda mais parecidos.

O time do Vikings soube envolver mais recebedores além de Diggs, Thielen e Rudolph. O primeiro tempo foi especialmente bom para Jarius Wright, que foi muito envolvido no jogo. Nosso TE, Kyle Rudolph, não teve boa participação na partida, com 5 recepções, 28 jardas e 5.6 de média, sem contribuir dentro da endzone.

No lado de New Orleans, o time, que depende bastante de Thomas, conseguiu usar com qualidade seu recebedor número 2, Ted Ginn Jr. Ted teve um desempenho muito bom com 8 recepções, 72 yds, média de 9 yds e a mais longa de 15 yds.

Kamara, em contrapartida, foi bem anulado por nossos LBs no que se refere a seu jogo aéreo: foram 4 recepções, 62 jardas, 15.5 de média e um TD – sendo que esse touchdown veio em uma jogada sensacional por parte do time da Louisiana, quando Brees colocou a bola onde não havia como o camisa #54, Kendricks, que estava na marcação de Kamara, alcançar, por mais que a marcação estivesse perfeita.

O jogo corrido:

O jogo corrido, uma chave para o funcionamento do ataque de ambos os times que estavam em campo nessa partida, não foi muito bem explorado por nenhum dos dois lados; somando todas as corridas de cada time, nenhum conseguiu passar de 100 jardas corridas. Mesmo não tendo uma performance incrível por nenhum dos dois times, no que diz respeito ao jogo corrido podemos ainda pensar que, numericamente, o time de Minnesota teve um desempenho um pouco melhor.

Kamara vs Murray – São os jogadores que mais tiveram toques na bola, respectivamente 11 e 19, e foram a força motriz do jogo terrestre. Apesar de ter tido 8 toques na bola a mais que Kamara, Murray produziu apenas 7 jardas a mais – foram 43 para Kamara e 50 para Murray, tendo assim uma média menor. O que mais diferencia ambos no jogo corrido é o fato de Latavius ter conseguindo um TD correndo, diferentemente de Kamara.

As defesas:

Por mais que o jogo tenha sido equilibrado em diversos aspectos, nossa defesa, sem sombra de dúvidas, teve um desempenho melhor, deixando isso muito claro mantendo o poderoso ataque do Saints zerado no primeiro tempo.

As coisas ficaram bem mais equilibradas no segundo tempo: a defesa de New Orleans começou a criar jogadas, conseguiu um turnover, segurou nosso ataque, pressionou Case Keenum e fez boas coberturas. Em contrapartida, no segundo tempo, a defesa de Minnesota, apesar de trabalhar duro, não teve um bom desempenho. Mais do que falha defensiva por parte de Minnesota, houve um excelente trabalho do ataque do Saints.

Foram 69 tackles totais para New Orleans contra 58 por parte de Minnesota, 1 interceptação para o Saints e 2 para o Vikings, 2 sacks para cada lado e 3 tackles para perda de jardas por parte do time de preto e dourado, contra 4 tackles para perda de jardas por parte do time de roxo e dourado.

Os números gerais da partida:

Falando em totalidade de números, as estatísticas só corroboram que o time que mais produziu foi o vencedor:

  • Primeiras descidas

Saints – 23

Vikings – 24

  • Eficiência em terceiras descidas

Saints – 2-9 (22%)

Vikings – 10-17 (59%)

  • Número de drives

Saints – 12

Vikings – 12

  • Total de jardas e jardas por jogada

Saints – 358 totais e 5.3 por jogada

Vikings – 403 totais e 5.7 por jogada

  • Penalidades

Saints – 7 penalidades entregando um total de 97 jardas

Vikings – 4 penalidades entregando um total de 30 jardas

  • Turnovers

Saints – 2

Vikings – 1

  • Tempo de bola

Saints – 26:43

Vikings – 33:17

 

A tentativa é pífia: os números jamais serão capazes de explicar essa partida, e a análise visual também não. Acho que essa é uma daquelas partidas que talvez não tenham sido feitas para análise, mas somente para os olhos, para serem apreciadas, para que possam ficar na memória. Amanhã ninguém vai se lembrar de quantas interceptações foram feitas, do bloqueio de punt que, estatisticamente, é mais absurdo que a jogada final; ninguém vai se lembrar do número de passes completos; mas o que, sem sombra de dúvidas, todos vão se lembrar para sempre é de Diggs recebendo o passe de Keenum e correndo 61 jardas para touchdown.

O Milagre de Minneapolis estará na memória de todos para sempre.

“When it’s your year, it’s your year. That’s all I got to say.”