Por: Case Keenum

Traduzido por: Skol Vikings

“Se nós vencermos, eu mijo nas minhas calças. ”.

“Quê? Sai dessa. “.

“Eu juro, eu vou. “.

“Nah…… não vai. “.

“Eu vou.”

“Se você está dizendo. “.

“Cara, tô falando. Se a gente ganhar, eu vou fazer. “.

“Mijar nas suas calças? “.

“Isso aí, exatamente. Eu vou me mijar e pronto. “.

“Aqui mesmo. “.

“Aqui mesmo, cara. De calças, de roupa – como se não fosse nada. “.

“Se vencermos. “.

“Sim, se vencermos. “.

“Tá bom então. “.

Se isso fosse um filme, eu acredito que essa seria a parte onde eles cortariam para uma tomada do meu amigo, Josh, mijando as próprias calças – e assim seria como vocês saberiam que, sim, em 2004 eu e meus amigos ganhamos o campeonato estadual. Nós vencemos o Campeonato Texas Class 3A Division State Championship, para ser exato – ainda, até os dias de hoje, o único campeonato estadual da história de Wylie.

Pessoas me perguntam o tempo todo como foi crescer em Albiene e jogar futebol americano no grande estado do Texas.

E, bem… foi incrível.

Foram tradições e superstições. Foram pep rallies (encontro entre estudantes de nível médio para encorajar o time antes de uma partida), líderes de torcida e jaquetas de couro. Era ter um adesivo na parte de trás de sua caminhonete com seu nome e número, para que todos soubessem de quem era a caminhonete. Era a mãe de alguém fazendo brownies para o time todo nas noites de quarta-feira. Era sobre um bando de idiotas indo pra CiCis Pizza e comendo o máximo que podia por U$3,99. Foram noites de filme no vestiário no dia anterior ao jogo, assistindo aquelas comédias estúpidas que você achava que eram realmente engraçadas na escola (e provavelmente ainda acha, mas não conta para ninguém).

Era sobre ser o azarão, ainda que o placar estivesse empatado em 14-14 com um minuto no relógio – com um título na reta.

Era ser um quarterback rebelde, com nenhum senso ou medo, correndo pela linha de dez jardas para estabelecer o field goal da vitória.

Era seu colega fazendo o field goal da vitória.

Era… insanidade total.

Cortesia de Case Keenum

Era sobre você e todos seus amigos no vestiário após o jogo agindo como malucos – colocando uma música country para rolar, brincando de carro de bate-bate com os cestos de roupa, agindo como completos maníacos, pulando de um lado para o outro até não podermos mais pular.

E, sim: Josh, uma lenda como ele sempre foi, se provou um homem de palavra… em pé, no meio do vestiário, se mijou inteiro.

Era apenas futebol americano escolar no Texas, cara.

Era o time exato, na hora exata. Foi o mais curto, rápido, divertido e fugaz momento de nossas vidas.

Nós torcíamos para que durasse para sempre.

 

 

Avançando para 2011, e eu estou no College Football Awards. Eu havia finalizado minha carreira de jogador na Universidade de Houston –  e eu era um dos três finalistas do troféu Dave O’Brien (que é um nome chique para melhor quarterback do país).

Então, lá estou eu nessa cerimônia, e estou sentado dando uma entrevista para um jornalista. Não direi seu o nome. Mas o cara me diz o seguinte: “Case, olá, não sei se devo lhe dizer isso, mas… eu gostaria que você soubesse: Eu tenho um voto no Dave O’Brien – e eu coloquei você como terceiro! ”.

E ele ficou lá me olhando, como se aguardasse eu dizer obrigado.

Como se ele tivesse feito um favor gigante para mim, só por ter me colocado em terceiro lugar em sua votação. Na mente dele, e de muitas outras pessoas, esse era o quão pouco que eu merecia estar lá.

De qualquer maneira, ele diz isso e eu fico lá sentado, olhando para ele. Eu digo: “Você sabe que eu sou um dos TRÊS finalistas, certo? ”.

E eu acho que, por um segundo, ele pensou que eu estivesse chateado. Como se ele tivesse me ofendido ou algo do gênero. Mas aí acho que ele viu o sorriso escapando pelo canto da minha boca – e eu pude vê-lo descobrir que eu estava muito pouco chateado e muito admirado. Eu pude vê-lo descobrir o que muitas pessoas eventualmente descobrem sobre mim: ser subestimado? Nunca foi algo que eu levasse para o pessoal.

Eu fui um recruta de duas estrelas, cara. Eu fui o quarterback titular que levou um time escolar do Texas a ganhar um campeonato estadual – no TEXAS – e eu só recebi uma oferta de bolsa de estudos. Eu tive que competir pela vaga de QB na universidade duas vezes: eu consegui o trabalho e trocamos de técnico, e eu tive que provar que merecia o trabalho novamente. Eu tive que ouvir “Se você fosse só uns centímetros mais alto…” ou “Se fosse só um pouquinho mais rápido…” ou ainda, “Se você tivesse o braço um pouco mais forte…” – basicamente minha vida toda.

A única vez que eu acho que fui superestimado foi no Draft da NFL. Os experts disseram que eu seria uma escolha tardia, entre as últimas rodadas.

Eu nem fui draftado.

Quando as pessoas me perguntam sobre ter que me ajustar por levar uma vida de QB itineirante, ou ter que ajustar minha vida à marginalidade da minha profissão por tanto tempo… sabe, acho que você tem que saber rir da coisa.

Ajustar e adaptar – essas palavras implicariam que isso seria uma situação nova. Essas palavras implicariam que alguma coisa na minha carreira veio fácil.

Eu acho até que você poderia argumentar, de forma irônica, que eu vim pra NFL quase mais preparado do que qualquer outro.

Porque essa é uma liga do “prove-se”, eles dizem.

E eu venho provando – de novo, de novo e de novo; é tudo que eu tenho feito.

Quando você está à margem da sua profissão, cara, você é quase sortudo, de certa forma. Claro, você tem menos garantia da permanência em sua posição. E, sim, o salário é menor. E, obviamente, você pode estar tendo que fazer suas malas a qualquer momento, sem aviso prévio… ok, talvez “sortudo” seja a palavra errada. Mas, ainda assim eu te digo – tem algo sobre viver assim.

Você aprende coisas estando à margem.

Você aprende a abaixar sua cabeça e ir para o trabalho. Você aprende que o progresso pode ser extremamente lento –  o que não significa que ele não está lá. Você aprende que sua margem para erro… é sempre menor do que você pensa. Você aprende o valor de ter pessoas que acreditam em você – e o valor de provar para eles que eles estão corretos. Você aprende a bloquear o ruído externo. Você aprende a realmente chamar jogadas. Aprende muito sobre como comemorar cada oportunidade como se fosse a última, porque você nunca sabe se realmente não será a última.

Foto por Hannah Foslien/GETTY IMAGE

Eu fiz ótimas jogadas durante meus quatro primeiros anos na liga. Também tive algumas jogadas que gostaria de poder mudar. Eu, honestamente, acredito que melhorei a cada ano – e, sendo um agente livre na última offseason, eu estava na melhor forma como quarterback que eu jamais estive.

E, se você busca saber o motivo pelo qual eu assinei um contrato de um ano com o Vikings… bem, eu não vou dar uma daquelas respostas clichês. Ao invés disso, darei a resposta mais verdadeira:

Eles me queriam mais que os outros times. Eu pude sentir isso.

Quando Sam se machucou, eu tive uma mistura muito grande de emoções. Eu conheci Sam quando estávamos em St. Louis juntos em 2014, e ele é um cara muito legal. Ele estava se recuperando de uma lesão na época – ainda assim ele ia a todas as reuniões e trabalhava com os quarterbacks, assim estabelecemos uma relação. Não foi fácil ver ele se lesionando novamente.

Porém, a outra face dessa moeda é: você tem que dar valor para cada oportunidade, certo?

Exceto quando você não dá – de forma nenhuma. Em minha estreia usando o uniforme do Vikings, fora de casa, em Pittsburgh… nós apanhamos. Eu não joguei exatamente bem – e a semana de preparação para o próximo jogo foi tensa e estressante.

Não somente eu vinha de uma derrota, mas os outros jogadores não me conheciam bem. Eles não sabiam como eu operava. Foi uma semana bem difícil, em todos os aspectos. Quero dizer, é sempre difícil quando você não ganha. Perder logo seu primeiro jogo? A pressão para vencer esse segundo jogo é gigante.

Muitas das vezes, honestamente, a pressão pode afetar a mente das pessoas. É assim que se inicia uma sequência de derrotas. Um jogo ruim, que coloca mais pressão no jogo seguinte, que coloca mais pressão no jogo seguinte e que coloca ainda mais pressão no próximo jogo e assim sucessivamente. De repente você olha e percebe que teve 4 derrotas consecutivas.

O que me leva a uma das primeiras coisas que eu aprendi sobre esse time – que é um dos motivos de sermos tão bem-sucedidos: todos sabem como sacudir a poeira e recomeçar. Depois do jogo contra o Steelers houve uma atitude generalizada de: tivemos um jogo ruim? Ok, vamos colocar as coisas no lugar, começando agora. A quantidade de suporte que eu recebi naquela semana – do Zimmer, do Shurmur, de todos meus colegas de equipe – foi incrível. Não somente eles ficaram do meu lado, mas eles me colocaram em seus ombros. Eles me carregaram.

Foto por Brace Hemmelgarn/USA TODAY SPORTS

E na semana seguinte, eu creio que isso ficou claro em campo. Nós jogamos contra o Bucs e eu joguei o que foi, provavelmente, o melhor jogo da minha vida. Eu conquistei minha primeira vitória como um Viking, nosso time acumulou duas vitórias e uma derrota. Após o jogo… bem, eu tive mais um sinal de que algo bom estava acontecendo aqui em Minnesota.

O técnico Zimmer estava no vestiário, fazendo seu discurso de pós-jogo e, repentinamente, ele se vira e pega uma bola.

Ele segura então ela alto no ar, faz uma pausa e diz: “Vocês sabem, eu normalmente não faço isso, mas…”

Largo sorriso.

“CASE KEENUM!”

Vocês têm que entender: Zimmer geralmente não dá bolas do jogo dessa forma, logo após a partida. Só não é algo que ele realmente faça. Ele só fez isso umas duas vezes no ano, e essa foi uma delas.

Ele me lançou a bola, e cara, a galera foi à loucura. Todos gritando e pulando e eventualmente isso parou, então todos vieram e me cercaram. Eu quero dizer, literalmente, todo mundo: colegas de equipe, técnicos, Mr. Wilf… todo mundo. E eles me deixaram fazer um discurso para eles, não só para o time, mas como meu time.

Eu disse a eles que lutaria por eles todos os dias – eu não estava mentindo. Estou dizendo a vocês: a camaradagem que eu senti naquele vestiário naquela tarde, não tenho certeza se posso descrever isso.

Esse time? É um grupo único.

Foto por Joe Robbins/GETTY IMAGES

Embora soubéssemos desde o início que nós tínhamos algo especial em nosso vestiário, foi só na oitava vitória seguida que nós percebemos que tínhamos algo de especial dentro de campo também.

Houve tantos pequenos momentos ao longo daquela sequência de vitórias, sabe? Lançar um par de touchdowns para Kyle em nossa vitória no jogo de Ação de Graças. Colocar cinco caras diferentes dentro da end zone em nossa vitória sobre Washington. Jogando fora de casa e destronando os então donos do título da NFC. Especialmente para mim, claro…

Vencendo meu antigo time.

Quando o Rams veio para Minnesota, eu tratei aquele jogo como se fosse qualquer outro, porque eu sou assim. Mas vamos ser sinceros… é muito legal vencer seu antigo time. Eles também estavam jogando muito bem, especialmente fora de casa. Então não foi um jogo importante para mim, somente, mas para nós todos como equipe.

São jogos como esses, momentos como esses, que você começa a pensar consigo mesmo: Uau, uma coisa muito boa está acontecendo aqui, não vamos colocar a carroça na frente do boi… mas, você sabe…

 

 

Foi a primeira nevasca real nesse inverno em Minnesota. Eu estava na entrada da minha garagem tirando neve, quando um dos meus vizinhos passa por mim.

“Ei, Case” ele diz. “O que você está fazendo?”

Eu dei com os ombros.

“Honestamente? Não tenho ideia!”

O negócio é o seguinte: eu sou do Texas. Eu não sei nada sobre neve. Não sei como salgar, não sei quando salgar, não sei quanto sal usar – eu não sei absolutamente nada sobre isso. Eu tinha a sensação de que, talvez, as pessoas pudessem me ajudar.

Então, no dia seguinte, eu cheguei em casa após um dia de treino e estava dirigindo por minha rua e a coisa mais estranha aconteceu. Eu vi três pessoas na frente da minha casa.

Usando pás para retirar neve.

Eram meus vizinhos.

Eu disse para eles: “Obrigado, de verdade, mas vocês não têm que fazer isso!“

Mas eles continuaram lá, retirando neve.

Agora? Se, a qualquer momento, você por acaso estiver dirigindo por minha rua e ver algum de meus vizinhos – pode ser o John, o Richard e a DeDe, ou Kimberly e Tim, ou as crianças deles, ou até mesmo Roan e Peyton – do lado de fora de minha casa jogando sal ou retirando neve com pás, saiba que é ou pela bondade em seus corações ou, talvez, eles só queiram que o QB deles esteja focado em futebol no momento. Muito provavelmente é a combinação dessas duas coisas. Acho que nunca saberemos.

Mas nossos vizinhos são simplesmente incríveis, cara. A bem da verdade, todos que eu e minha esposa, Kimberly, conhecemos desde que nos mudamos para Minnesota são incríveis. E deixe-me contar uma coisa sobre eles:

Eles conhecem o futebol que têm.

E eu tenho a impressão que eles sabem onde o Super Bowl será disputado esse ano, também.

 

 

Algumas vezes, durante minha jornada através do nível universitário e do esporte profissional, eu me perguntava se estaria destinado a me tornar uma daquelas pessoas cuja a vitória em um Estadual – e a sensação de ser um QB em um time vitorioso do Texas – seria meus “dias de glória”, quando tudo já estivesse acabado. Eu sempre sonhei em entrar para a NFL, e fazer o que estou fazendo nesse momento – e eu sempre tive a confiança de que, uma vez que eu estivesse na liga, eu seria um jogador vitorioso. Ainda assim, nunca se sabe. Nunca existe a garantia de vitória, em nenhum nível. Às vezes eu só conseguia pensar se aquela temporada do Estadual não ficaria conhecida como, para o bem e para o mal, a melhor temporada da minha vida.

E, obviamente, não quero de forma nenhuma desrespeitar aquela galera de Wylie, supondo que algo possa estar acima daquele campeonato. Mas esse ano… quer saber?

Eu acho que finalmente encontrei uma experiência que pode estar próxima daquela.

Foto por Stacy Revere/GETTY IMAGES

Estou em uma organização que acredita em mim e em um sistema no qual eu posso ser bem-sucedido. Eu tenho esse grupo extremamente unido de colegas de time, que se tornaram esse incrível grupo extremamente unido de amigos. E estou vivendo nessa maravilhosa comunidade – que ama, vive e respira futebol.

Não é o Josh se mijando enquanto a música country estoura pelas caixas de som baratas e os cestos de roupa suja são usados como carrinhos de bate-bate… mas, cara. Quase quinze anos depois daquele campeonato estadual em Albiene, eu posso finalmente dizer o que eu esperei tanto tempo para poder dizer: estou no time certo… na hora certa.

No colegial, nós sempre tivemos o seguinte pensamento: como gostaríamos que essa temporada durasse para sempre. E eu estou te dizendo isso, tão certo quanto eu escrevo esse artigo… nós realmente acreditávamos em cada palavra que dizíamos.

Mas eu estou mais sábio agora.

Hoje em dia, cara, meus objetivos são um pouco mais modestos: Só me dê o melhor futebol e os melhores fãs que o grande estado de Minnesota tem a oferecer.

Ponha esses elementos sob o mesmo teto.

E nos dê mais três partidas.

 

 

Link Original:

Right Team, Right Time