Esse texto foi originalmente publicado no Players Tribune, um site onde os atletas das mais diversas categorias escrevem para compartilhar suas experiências.

O texto foi escrito por nosso TE, Kyle Rudolph, e possui uma carga emocional muito forte. Dadas essas informações nós temos duas considerações:

1- quem puder ler o texto em inglês, por favor, vá direto ao original (link no fim do post) e leia. Ler o original sempre dá uma experiência mais completa e mais próximo de fato do autor;

2- nós, sabendo que nem todos falam inglês, tentamos traduzir sendo o mais fiel possível. Tivemos bastante cuidado e carinho, por isso esperamos que esteja bom e que todos que leiam gostem e se emocionem.

Sem mais delongas, vamos ao texto.


Eu quase me tornei agente livre esse verão. Não tem muita gente que sabe disso. 

Ou, na realidade, as pessoas sabem, mas ninguém falou muito sobre isso – que era exatamente a forma como eu queria que fosse. Eu queria que fosse realmente low-key, porque eu sabia que minha decisão também seria low-key. A ideia de explorar a agência livre é sem dúvidas interessante para mim, talvez até instigante. É algo que eu imagino que todo atleta profissional sonhe com em certo âmbito: ter outro time na sua liga buscando você, recrutando você e te vendendo a ideia de que você é a peça do quebra-cabeça que falta.

Mas no fim do dia, eu decidi deixar a ideia de ser agente livre. 

Isso porque, tão tentador quanto possa ser receber uma miríade de ofertas de outros times naquele verão, eu sabia que em última instância todas as ofertas teriam um defeito fatal: seriam ofertas para ir embora. 

E tudo que eu sempre quis fazer foi ficar. 

Tudo que eu sempre quis, por todo o tempo que estou nessa liga, é permanecer jogando como Tight End pelo Minnesota Vikings – e ser parte do time que finalmente conquista para essa franquia um Super Bowl. 

Falo sobre isso agora porque foi difícil não pensar no verão passado, na decisão de assinar uma extensão e de permanecer, enquanto aquele passe do Kirk flutuava pelo ar na prorrogação. Honestamente, foi difícil não ter minha carreira passando pelos meus olhos enquanto aquela bola flutuava e passava por cada centímetro da end zone….. até que ela flutuou todo caminho até o canto mais distante….. 

Onde um único cara podia alcança-la. 

Existem tantos momentos que eu vou lembrar do jogo de domingo – pequenos momentos que dizem tanto sobre do que é feito esse time: nossa defesa forçando um fumble e uma interceptação em momentos chave. Nosso bloqueio de field-goal, com o time especial sendo gigante pouco antes do fim do primeiro tempo. Nosso mais completo empenho e força de vontade em segurar o Drew Brees –  um nome que entrará em seu primeiro ano elegível para o Hall da Fama – e aquele incrível ataque do Saints para apenas 20 pontos no Superdome.

É engraçado, nosso primeiro jogo da temporada – quero dizer, pré-temporada – foi no Superdome. Quando, na partida de domingo, o relógio da partida zerou, o tempo regulamentar acabou e fomos para a prorrogação….. foi a sensação mais estranha. Quase como se fechássemos um ciclo.

“Nossa temporada começou aqui,” eu gritei “mas ela não terminará aqui!”.

Então, como você coloca essa prorrogação em palavras? Foi perfeita. Você teve aquela terceira curta bem decisiva, para começar, onde o Kirk se manteve firme no pocket e acertou Diggsy em uma rota slant – e eu simplesmente não consigo falar o suficiente sobre o Diggsy naquela rota. Se ele estivesse meio passo fora, nós iriamos para o punt e aí Drew teria a bola em suas mãos, em sua casa e nos mandaria para a nossa casa. Cara….. que jogada. Foi seguida por – meu Deus – um passe 10/10 de Kirk para Thielen, que fez então a recepção de sua vida. 

O que eu amo sobre aquele momento não é somente a jogada por si, mas o instinto do nosso grupo ao ver aquilo se desenrolar. Assim que Adam foi ao chão com a bola em seus braços na linha de duas jardas, foi como… ninguém precisou nem dizer uma palavra. Todos em nossa unidade, homem à homem, estávamos na mesma página. Essa página era: SEIS. Como em: Nós vamos conseguir SEIS aqui. Nenhuma hesitação, nenhuma pergunta precisava ser feita. Aqui e agora. Nós vamos conseguir seis, camaradas. Vamos terminar isso

Três jogadas depois, foi exatamente isso que fizemos. 

Kevin C. Cox/Getty Images

Após o jogo, eu acho que o vídeo do técnico dando para mim e para o Kirk nossas “bola do jogo” se tornou um viral – e me faz muito feliz todo mundo poder ver isso. Não por causa do meu momento nem nada assim, mas porque as pessoas fora do nosso vestiário puderam ter um pequeno vislumbre de como os jogadores se sentem sobre o Kirk. Esse é o nosso cara, sabe? E ele tem sido nosso cara. Eu penso que todos nós sentimos uma certa estranheza acerca da cobertura midiática ao redor de nosso time: onde, se o time perde, não importa quem é o culpado, quem jogou mal ou jogou bem – a derrota pesa sobre os ombros do Kirk. Assim se cristalizou essa narrativa, francamente uma narrativa ridícula, de “Cousins não consegue ganhar nos grandes palcos” ou “não ganha no horário nobre” ou qualquer outra coisa. 

Enquanto isso, eu vi Kirk jogar com o coração na mão em diversos desses jogos, fazendo as jogadas certas nas horas certas, mantendo seus erros ao mínimo….. para nós, como um grupo, morrermos na praia.

O jogo contra o Seahawks de algumas segundas atrás foi um exemplo perfeito disso. Kirk disputou nariz a nariz com Russel naquele jogo, uma trocação franca, e é difícil dizer quem jogou melhor. Então, o time do Seahawks fez uma jogada a mais que nós no fim, totalmente fora do controle do Kirk….. e de repente é tudo sobre “Kirk é incapaz de segurar a vitória”? Claro que não é isso. O que eu acredito que é meu jeito de dizer, olha – essas questões com o Kirk, elas sempre foram tolas. Ele é uma estrela. Na semana passada contra o Saints, aquilo não foi ele provando isso. Aquilo foi somente todo mundo que está fora do nosso vestiário finalmente reconhecendo isso. Então sim, sabe, nós estamos meio instigados. 

E eu não vou mentir: esse sentimento de provar que as pessoas estão erradas, de sermos subestimados e jogarmos com as nossas costas contra a parede – esse time cresce com isso.

Nós estamos muito desapontados com nossa performance no ano passado. Toda aquela expectativa, todo aquele hype, todo aquele talento que tínhamos e ainda vindo de uma temporada onde explodimos….. para ficar 8-7-1? Sentimos que desapontamos todo os estado de Minnesota.

Nós sabíamos que tínhamos desapontado a nós mesmos. Aquilo não estava nem próximo do nosso melhor football.

Assim, quando essa temporada começou a rolar e ninguém esperava que nós fossemos um fator relevante….. Quero dizer, sério, acredite em mim, nós definitivamente notamos. Penso que nós meio que saboreamos estar nessa posição. 

E a ideia de nós estarmos aqui nesse ponto pode ser uma supresa para alguns especialistas? Para nós não é nenhuma surpresa. Nós acreditamos que merecemos – e essa crença só se torna mais e mais poderosa. 

Ryan Kang/AP Images

Uma outra coisa aconteceu alguns meses atrás que talvez alguns de vocês não saibam: eu completei 30 anos. 

Cara….. trinta.

É difícil imaginar. Eu ainda me lembro do dia em que fui draftado pelo Vikings quando eu tinha 21….. e como uma das principais coisas em minha mente era que, você sabe, no meu ensino médio meu time de football tinha o uniforme roxo – Então isso é bom. Eu fico bem de roxo. Eu realmente era só um garoto.  De certa maneira é impossível saber como o tempo passou. Parece que tudo passou tão rápido.

Porém, em certo sentido….. Eu lembro de tudo. Cada jogada, cada bloqueio, cada recepção, cada vitória, cada derrota – tudo que se foi, eu lembro. Eu aprendi tanto nesses momentos. Cresci tanto através desses anos. Eu absorvi a história desse time e me tornei a história desse time. Eu absorvi sua cultura e me tornei sua cultura. 

Eu sinto que quando cheguei aqui eu era Kyle Rudolph, que joga pelo Vikings.

E agora eu sou Kyle Rudolph, Minnesota Viking.

É parte de mim.

E como eu disse – é por isso que eu tive que renovar. É por esse motivo que eu tive que voltar para mais uma tentativa. Porque tudo isso é parte de mim agora. As derrotas no Super Bowl, eu me retorço quando são mencionadas. As desilusões em 98 e 09, ou qualquer outra que queira mencionar – eu sofro quando ouço sobre elas. Eu pude ver nossos fãs, bem de perto, quando estávamos a uma vitória do Super Bowl –  e foi uma das maiores experiências da minha vida inteira. Não ter sido capaz de prosseguir vitorioso e nos dar a chance de conquistar um anel….. ainda é difícil de engolir.

Mas agora eu entendo como esse é, de certa forma, o ponto.

Eu entendo agora como tudo isso, cada um desses contratempos, toda essa jornada, a relação única entre jogadores desse time e os fãs desse time – é o que fazem a experiência de ser um Viking tão especial. Nós criamos algo mais forte que uma organização aqui.

É algo como….. uma comunidade, eu creio. 

Nós prosseguiremos construindo essa comunidade todos os dias – todos juntos. Memória por memória, tijolo por tijolo. 

E, se tudo der certo no próximo mês, vitória por vitória. 

Aqui segue o link do original:

https://www.theplayerstribune.com/global/articles/kyle-rudolph-minnesota-vikings-playoffs

Esperamos que tenham gostado.