Em 2019 nós estamos; eu nasci em 1992 – só 27 anos atrás – e, quando era criança e pensava no futuro, imaginava que nessa época teríamos algo como carros voadores, o skate do De Volta Para o Futuro e um jogo de Pokémon onde existiriam hologramas dos monstrinhos e eles responderiam a um comando de voz. Em 2019 nós estamos, e ainda temos algo que eu não imaginei: racismo.
Era de se imaginar que o racismo permaneceria na sociedade; suas causas são recentes – a escravidão na Mauritânia, por exemplo, só foi declarada ilegal em 1981, sete anos antes de Colin Kaepernick nascer. Nos EUA, apesar de o presidente Abraham Lincoln ter abolido a escravidão em 1863, a segregação racial durou até os movimentos civis nos anos 60 do século XX. Importante ressaltar que nada disso ocorreu de forma natural e sem atritos: a abolição veio através de guerras e mortes, e o fim da segregação e os direitos civis vieram através de lutas e muitas mortes. Mortes de vidas negras.
Ainda assim, para mim pelo menos, havia esperança de que em 2019 o racismo tivesse, pelo menos, diminuído, mas infelizmente aconteceu o oposto. O racismo institucionalizado ganhou força em diversos governos neofascistas no século XXI: o discurso de seus líderes, acobertados por uma falsa capa de liberdade de expressão, deu voz, salvaguarda e coragem para que questões enterradas em cova rasa surgissem de novo, como zumbis em um filme do George Romero.
Colin Kaepernick foi uma vítima desse racismo institucional.
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Conforme o racismo institucional voltou a crescer – pois é importante lembrar que ele NUNCA deixou de existir –, diversos grupos e movimentos contra ele se espalharam pelos EUA, entre eles o Black Lives Matter. O BLM, como é conhecido, começou em 2013, após a absolvição de George Zimmerman pelo crime de homicídio do adolescente afro-americano Trayvon Martin. O movimento se tornou internacional, e repercutiu no mundo todo através de redes sociais. Entre vários apoiadores, lá estava Colin Kaepernick.
O erro de Colin foi se posicionar politicamente contra o racismo dentro de uma liga que é comandada por homens brancos, ricos e parte de um establishment tipicamente racista. A relação casa grande e senzala é muito viva na NFL.
Muitos hão de argumentar que Colin estava jogando mal – de fato ele estava; muitos vão argumentar que as ações dele em campo faziam barulho no vestiário – sim, faziam. E por isso ele ficou sem emprego. Essa lógica e raciocínio é bem simplista e desleal, uma vez que muitos jogadores têm desempenho duvidoso e muitos outros causam barulho no vestiário, e, bem, a maioria deles – que já jogou ou ainda joga em alto nível – continua empregado.
Para que fique mais claro, vamos a um exemplo específico:
Chad Kelly, QB medíocre, sem nenhum sucesso ou destaque na liga a não ser pelo fato de ser sobrinho do grande Jim Kelly, histórico QB do Bills. Em 2014, Chad foi acusado e se declarou culpado por brigar ao sair de uma boate em Buffalo, NY, pegando apenas 50 horas de serviço comunitário. Novamente, em 2018, Chad foi preso, dessa vez acusado por seguir e invadir a propriedade de uma mulher após sair de uma festa; novamente se declarou culpado e está em liberdade condicional por um ano. Chad está empregado, jogando atualmente como QB reserva dos Colts.
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Colin Kaepernick está há 917 dias sem contrato na NFL, sem cometer crimes, somente por protestar por vidas negras. Chad Kelly está empregado na NFL, mesmo cometendo e assumindo a culpa de 2 crimes diferentes.
Você deve estar nesse momento se perguntando “O que o meu Minnesota Vikings tem a ver com isso?”. Bem, diretamente, nada, mas existe uma oportunidade aí.
O Minnesota Vikings tem um problema atualmente na posição de QB. Temos um quarterback titular que tem 84 milhões garantidos, independentemente de lesão ou de não jogar, e como reserva, Sean Mannion. Torcemos muito para que Cousins fique saudável e tenha uma temporada incrível, porém existe uma chance de isso não acontecer e termos que contar com Sean Mannion – e eu não tenho nada contra o Mannion, que parece ótimo, mas não é na mão dele que eu quero deixar a franquia caso algo aconteça com meu QB titular.
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Em contrapartida, Kaep está solto no mercado, esperando um contrato e, como em vídeo postado recentemente pelo próprio com Odell Beckham Jr., mantendo-se ativo e lançando ótimas bolas. Além disso, Colin é melhor que Mannion – na verdade Colin é melhor que todos os backups da liga e até alguns titulares, ainda que seus últimos anos em São Francisco tenham sido turbulentos (vale lembrar que aquele time era um cocô em chamas).
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É a hora do Vikings ir com tudo para essa temporada, colocar todo o esforço para ganhar esse título e a presença de Colin, sua experiência (ele já jogou um Super Bowl) e talento poderiam ajudar o time muito mais que Mannion. Além disso, seria uma justa reparação para com um cara que merece estar na liga.
Minnesota, Zygi Wilf, Rick Spielman e Zimmer, me ouçam, é o melhor caminho!